
Divulgação (Foto: reprodução)
Caso Ninho do Urubu pode sofrer novos desdobramentos na Justiça
por conduta da PC
Em audiência, delegado do caso afirma ter se encontrado,
informalmente, com atual dirigente do clube
O delegado da Polícia Civil, Márcio Petra, responsável pelo caso
do Ninho do Urubu, teria se consultado de forma informal com Cacau Cotta, atual
diretor de Relações Externas do Flamengo, antes de pedir o indiciamento de
Eduardo Bandeira de Mello, ex-presidente do clube. Os procedimentos adotados
pelo policial podem mudar a trajetória do caso na Justiça.
No encontro com o delegado, o dirigente isenta sua gestão de
culpa no incêndio, responsabilizando indiretamente a administração de Mello. A
tragédia em 8 de fevereiro de 2019, deixou 10 atletas da base mortos,
cerca de 39 dias após a presidência do Flamengo sair de Bandeira para Rodolfo
Landim.
Durante a audiência de instrução para julgamento de Eduardo
Bandeira de Mello, Marcelo Petra admitiu ter se consultado com Cacau Cotta,
casado com uma prima do delegado.
“Ele não fez contato comigo. Eu que fui até ele, porque ele era
referência para mim do Flamengo. Eu não gosto de futebol, não tenho time, né.
Então ele, para mim, era a pessoa que poderia me dar a estrutura do Flamengo.
Eu não queria nomes, eu queria a estrutura. Como que o Flamengo comportava e
basicamente as responsabilidades”, alega o policial.
Mello foi indiciado 10 vezes por crimes de homicídio, três
vezes por lesão corporal e por “causar incêndio expondo a perigo a vida, a
integridade física ou o patrimônio de outrem”, agravado pela morte dos atletas.
O ex-presidente do clube foi denunciado pelo Ministério Público do Rio de
Janeiro (MP-RJ) e responde a uma ação penal.
Ao ser questionado sobre o anexo das declarações de Cotta ao
inquérito, Petra informou que não havia registrado o contato e disse que a conversa
foi “informal”. Em seguida, Cotta foi nomeado diretor de Relações Externas pela
atual administração do Flamengo.“Isso aí [a nomeação]… não tenho nada com
isso”, disse o delegado.
A defesa de Mello, alega que a conversa entre Cotta e Petra
teria influenciado o rumo das investigações e, consequentemente, gerado um
vício processual. Os advogados do ex-presidente do Flamengo solicitaram a
abertura de um inquérito investigativo contra o policial.
“As declarações de Luiz Claudio Cotta versaram sobre questões
intimamente ligadas ao objeto do inquérito policial, sobretudo aquelas
relativas ao escopo de trabalho da Diretoria, Vice-Presidência e Presidência do
Flamengo. Foram justamente considerações dessa índole que levaram o
Representado [Petra] à questionável conclusão de que o Representante [Bandeira
de Mello] seria o gestor com ‘domínio final do fato”, pontua a defesa.
Além disso, a defesa destacou que Petra “feriu o princípio da
impessoalidade das investigações” ao permanecer na condução do inquérito mesmo
após o marido de sua prima ser nomeado para a diretoria do Flamengo.